Com o início de mais um ano letivo, é comum que surja alguma ansiedade tanto nos pais e mães como nos/as filhos/as, especialmente quando é a primeira vez que vão para a escola ou quando acontece uma transição de ciclo ou para uma nova escola.
A ansiedade é uma resposta natural do ser humano, ligado ao instinto de sobrevivência: é o que nos faz reagir em situações de perigo - a reação de luta ou fuga. Mas não surge nas mesmas situações para pessoas diferentes.
Quando nos deparamos com situações que sentimos como ameaçantes, quando temos de tomar decisões importantes ou quando estamos perante situações novas e desconhecidas, sentimos ansiedade. Todos nós a sentimos, porém em situações diferentes e com manifestações diferentes. Ou seja, podemos achar uma situação ameaçante e sentir ansiedade numa situação em que outras pessoas não sentem o mesmo.
A ansiedade comum no regresso às aulas aliada à situação atual de pandemia, com todas as incertezas e medos que acarreta, pode facilmente transformar-se em algo mais sério. Passa a ser preocupante quando se mantém no tempo (em vez de ser passageira) e quando passa a interferir no funcionamento da pessoa, em várias áreas da sua vida (social, escolar, familiar, etc.).
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) realça que “a reabertura das escolas implica mudanças nos procedimentos anteriores, alterações nos hábitos sociais e nas emoções de todos os envolvidos. Neste sentido, o reingresso ou a transição escolar, devem basear-se na premissa de que a escola é um espaço seguro, cuidador e de apoio ao desenvolvimento das crianças e jovens”.
Assim, para que este regresso possa ser mais fácil, os pais e mães, assim como outros elementos da família mais próxima, têm um papel essencial para que os/as seus/suas filhos/as tenham um boa (re)adaptação à escola, nestes novos moldes.
Partilhamos algumas estratégias que pode utilizar com as crianças e jovens aí em casa. Podem parecer difíceis de concretizar, e é claro que nunca vamos ser capazes de as pôr em prática em todas as situações. Mas podem ser um bom guia para facilitar este regresso à escola em tempos de COVID-19.
Tranquilidade
Quando os pais transmitem calma, as crianças vão senti-la, e os seus níveis de ansiedade vão diminuir. Uma atitude serena, como falar com eles com um tom de voz tranquilo, ajuda a criar um ambiente familiar seguro, em que eles/as vão poder relaxar e os seus receios vão diminuir.
Falar sobre os problemas
Quando existe ansiedade, o melhor a fazer é lidar com ela (e nunca ignorá-la!). Converse com os/as seus/suas filhos/as, e incentive-os a falar sobre os seus sentimentos, como os medos e ansiedade. Não falar sobre o assunto apenas cria mais incertezas e receios. Por outro lado, não deve insistir demasiado no assunto, indo ao encontro das dúvidas deles/as até estas estarem esclarecidas.
Compreensão
Um novo ritmo e novas regras precisam de algum tempo para serem assimiladas. Assim, dê-lhes tempo para se adaptarem, sendo compreensivo/a com todas estas alterações.
Tempo
Dê-lhes tempo para se adaptarem à nova realidade. Como em tudo na vida, o equilíbrio é o essencial, “nem 8 nem 80”: tente não ser demasiado exigente mas também não ser demasiado permissivo, para os tentar compensar por estarem a passar uma situação mais difícil.
Vigilância
Seja vigilante e atento/a às suas reações nos diferentes contextos, falando com regularidade com as educadoras/es, professoras/es ou outro pessoal escolar, ou mesmo mães e pais de colegas de turma para saber como está a ser a adaptação. Esteja atento/a a mudanças de comportamento e, sempre que achar necessário, consulte um psicólogo/a. Na SeMente podemos ajudar!
Ritual em família
Estão muito tempo debaixo do mesmo teto, mas será que falam realmente com os/as vossos/as filhos/as? É importante criar momentos especificamente para conversar. A hora do jantar é uma boa altura em que estão todos reunidos, mas escolha a altura que resulte melhor para a vossa família. E faça disso um ritual. Falem em família sobre o vosso dia-a-dia, incentivando todos a partilhar quaisquer preocupações que tenham e a falar sobre as suas emoções regularmente e com naturalidade.
Deixe-os decidir (algumas coisas)!
Oriente-os, dando-lhe opções, mas permitindo-lhes tomar também algumas decisões e participar no planeamento do regresso à escola, para que sintam maior confiança. Tente confiar e dar-lhes também alguma liberdade para que possam estar com amigos/as e para que possam voltar a fazer coisas que faziam antes da pandemia. Desta forma, irão sentir mais seguros e que confiam neles, e que as coisas podem voltar a parecer-se com o que eram antes do Corona Vírus.
Tempo em família
Planeie atividades para fazer em família, aumentando o laço entre todos/as e ao mesmo tempo criando momentos divertidos que não irão esquecer. A adaptação à nova normalidade será muito facilitada para todos se se divertirem mais juntos/as! Além de que podem criar oportunidades para estarem com outros elementos da família (com as devidas precauções de segurança, como por exemplo, organizando as atividades ao ar livre).
Trate de si!
Como pode ajudar a sua família se não está a cuidar das suas próprias necessidades? Temos de estar bem (connosco) para podermos fazer bem (pelos outros). Faça uma atividade de que goste, pelo menos uma vez por semana. Guarde um momento do dia, sugerimos o final do dia, antes de ir dormir, para fazer uma atividade relaxante - pode ser ler um pouco, ver uma série sem os/as miúdos/as, pintar uma mandala, ou quem sabe, começar praticar yoga regularmente e meditar (nem sabe o bem que estas práticas podem fazer pela saúde física e mental - fale connosco para agendar a sua aula experimental!).
E não se esqueça do seu/sua parceiro/a! Tenham momentos só a dois e não deixem a vossa relação para o segundo plano.
O resto é convosco!
E connosco também, pois estamos aqui para ajudar todas as famílias que precisem de nós!
Partilhem outras sugestões que põem em prática com a vossa família para facilitar este regresso à tão falada “nova normalidade”!
